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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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O Brasil não é do “senhor Jesus”, nem de Malafaia, nem de Michelle e nem de Bolsonaro

"Já passou da hora de arriar a lona do circo neopentecostal bolsonarista", defende Ricardo Nêggo Tom

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Até quando nós vamos continuar assistindo passivamente ao exercício de pura desonestidade intelectual e vagabundagem moral, sob a máscara da liberdade de expressão, que vem sendo praticado pelo bolsonarismo e suas vertentes diabólicas? Se fosse apenas a sonoplastia esdrúxula e a reunião de milhares de celerados no mesmo espaço vivendo a mesma distopia e aplaudindo um discurso em inglês feito por um deputado patriota em homenagem ao seu novo salvador estrangeiro, nós riríamos e seguiríamos em frente. Porém, o que existe por trás dessas estúpidas manifestações bolsonaristas é o puro suco do fascismo político, econômico e religioso. Uma ode à insanidade cognitiva e um réquiem da dignidade existencial humana. Estamos morrendo mais um pouco como sociedade, a cada ato em favor de uma figura que representou o que houve de pior na história da política brasileira. A marcha para o diabo, 2ª edição, cumpriu o que prometia. Embora o público tenha ficado abaixo das expectativas, as falas das ilustres lideranças presentes ao evento não decepcionaram e mais uma vez justificaram o porquê de os bolsonaristas condenarem o uso do órgão excretor para relações sexuais. Eles utilizam os seus para formularem ideias e verbalizá-las.

Sei que o título do artigo irá gerar polêmicas e críticas de fundamentalistas e de não fundamentalistas também. Isto porque quando se fala o nome de Jesus, ainda que ele esteja sendo pronunciado por bocas fétidas como as de Silas Malafaia e Michelle Bolsonaro, faz surgir em nosso imaginário a ideia de que o evangelho de Cristo está sendo louvado. No entanto, quando dizemos que o Brasil é do senhor Jesus ou que Deus está no controle de tudo, estamos atribuindo a eles todas as injustiças, desigualdades e violências cometidas sobre a terra. Afinal, se ele está no controle e não muda essa realidade, é porque ele entende que assim deve ser. Ou seja, legitima o discurso político-religioso excludente que tenta nos convencer de que quem é próspero materialmente é abençoado por Deus, e os mais pobres precisam se contentar com a opressão imposta porque essa é a vontade de Deus para eles. E muitos evangélicos e católicos do campo progressista acreditam que Deus está no controle de tudo, o que, de certa forma, acaba isentando o Estado de responsabilidade sobre o caos social que ele promove sob estruturação.

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Um caos que tem tudo para se ampliar após o deputado Nikolas Ferreira dizer ao público que “o país não precisa de mais projetos de lei, mas de homens com testosterona”, o que soa como um apelo desesperado de alguém cujo referido hormônio está em baixa quantidade. Um pedido de socorro aos homens deste país, mediante a insignificância e fragilidade da sua própria masculinidade. Um apelo coerente com as atitudes de alguém que vestiu uma peruca loira e subiu à tribuna da Câmara para atacar mulheres trans. Além do machismo e misoginia da declaração, que foi aplaudida pelas mulheres bolsonaristas presentes, em grande parte, senhoras idosas. Talvez, a maioria não saiba o que é testosterona, assim como não sabiam que Israel não é um país cristão. Israel que foi citado na fala de Jezabel Bolsonaro como a terra santa abençoada por Deus. Observem como o deus do bolsonarismo adoram os poderosos e os opressores. Michelle dessa vez não falou tanto. Quem sabe, por ter menos testosterona do que a maioria dos presentes no palanque. Mas como sempre invocou o sobrenatural e reforçou a conclamação da luta contra o mal, feita no evento da Paulista.

A profetisa do inferno bolsonarista parece que está ficando sem repertório e corre o risco de ter o seu blefe de mulher religiosamente virtuosa desmascarado. Não basta usar uma camisa escrito “o Brasil é do senhor Jesus” e repetir que os inimigos tremem diante da palavra do seu deus. Talvez seja a hora de ela discursar em línguas estranhas, como fez o deputado Gustavo Gayer, que falou em inglês para que o mundo inteiro saiba que Elon Musk é o novo senhor e salvador da pátria brasileira. Aliás, o bilionário com sobrenome que exala cheiro de testículo de bode foi glorificado por diversas vezes durante a manifestação. Bolsonaro foi o mais entusiasmado em louvar o novo mito da extrema-direita. Só não arriscou fazê-lo em inglês, porque a patriotada seria épica. Com seu mal e porco português, ele disse que o dono do “X” é o homem que luta por liberdade para todo o mundo e pediu uma forte salva de palmas para o seu novo dono. Uma subserviência mítica que fez o gado mugir em honra ao homem mais desprovido de caráter dos dias atuais.

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Bolsonaro também incitou os seus ruminantes apoiadores a combaterem Alexandre de Moraes, o atual governo e a lutarem pela liberdade que está em risco. Um discurso que ainda reverbera entre a sua claque, que é composta por pessoas que acreditam que serem racistas, machistas, homofóbicas, intolerantes, preconceituosas e violentas, é um direito que a liberdade de expressão lhes confere. Não é não! E o judiciário precisa fazer com que eles aceitem isso, ou vai doer mais em suas “liberdades” O ex-presidente ainda tentou dar um último tom messiânico a sua presença no ato, dizendo ao povo, digo, ao gado, que “se algo ruim acontecer comigo, não desanimem”, evocando a suposta facada em Juiz de Fora e vaticinando um novo atentado contra si. O messias dos violentos tentando se fazer ideologicamente imortal diante do seu séquito. Séquito esse que ele já divide o comando com Silas Malafaia, que também se apresenta como candidato a Jesus na frase que Michelle exibia em sua camisa.

Malafaia atacou abertamente o STF sem nenhum pudor, repetindo que o Estado de direito no Brasil está em perigo e que Alexandre de Moraes é um ditador de toga. Mais um apelo à própria prisão que não deveria ficar sem uma justa resposta por parte do judiciário brasileiro. Sinceramente, apenas o dever jornalístico me obriga a ouvir a voz do empresário da fé Silas Malafaia, que representa o que há de mais pernóstico e sorrateiro na linguagem evangélica brasileira. Um ser nauseante do chifre à ponta do rabo. Um ungido do senhor imperialismo que segue usando a religião e a fé das pessoas para manipulá-las em defesa de seus interesses pessoais e financeiros.  Como ele mesmo disse em entrevista à influenciadora bolsonarista Antonia Fontenelle, “tocar em um líder religioso não é uma coisa fácil”, acrescentando que ele é líder de uma religião que representa 35% do povo brasileiro. Concluindo que “isso é um negócio gigante” e que o STF não se atreveria a prendê-lo ou a mexer com ele.

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Esse é o Brasil que líderes evangélicos como Malafaia, entre tantos outros, desejam. Esse seria o Brasil que pertence ao “senhor Jesus” estampado na camisa de Michelle. Um Brasil fundamentalmente fascista e fascinantemente fundamentalista. Esse é o Brasil que seria a Israel dos trópicos. A terra santa que Bolsonaro louvou em seu discurso, e que teria sido prometida pelo deus que ele representa ao seu gado rancoroso, alienado e ruminante. O dia em que o Brasil pertencer ao senhor de Michelle, Malafaia e Bolsonaro, estaremos num inferno sem precedentes, onde só haverá choro e ranger de dentes para aqueles que não dobrarem o seu joelho diante do rei dos picaretas da fé. Um rei que é mutante e transitório, segundo as conveniências da salvação a ser defendida. No momento, Elon Musk é o libertador enviado por Deus para salvar a pátria. Nada, absolutamente nada é mais diabólico do que se utilizar do nome de Deus para impor domínio. Em nome do Estado laico, eu determino que o Brasil nunca será um evangelistão. Nunca! Tá repreendido, em nome da Constituição! O Sangue da democracia tem poder! Deus nos livre desse inferno!  

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